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Do Inverno Cripto Aos US$ 100 Mil: O Que o Futuro Reserva para o Bitcoin?

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

O bitcoin, principal criptomoeda do mundo, está longe do “inverno cripto” que se prolongou por cerca de dois anos, de 2018 a 2020. Se o episódio parecia colocar um ponto final na tentativa de fazer com que as criptomoedas se estabelecessem como uma alternativa viável ao dinheiro tradicional, hoje o ativo celebra algo que parecia improvável naquela época — um novo recorde acima dos US$ 100 mil e quase US$ 2 trilhões em valor de mercado. 

A volta por cima não foi linear. Nos últimos anos, a criptomoeda encarou diversos desafios, como a falência de diversas exchanges (bolsas de criptomoedas) de grande importância para o mercado e sinais de que algumas estruturas da blockchain — como a que teoricamente impede ações de lavagem de dinheiro e pagamento de transações duvidosas. 

A eleição de Donald Trump, no entanto, parece inaugurar um novo capítulo para o bitcoin. Desde a confirmação do resultado nos Estados Unidos, a moeda digital saiu do patamar dos US$ 70 mil até atingir a marca de US$ 103.679 no início da quinta-feira (05) — uma alta de cerca de 47%. 

Ao ultrapassar a marca psicológica, a pergunta que fica é: o que o futuro reserva para o mercado cripto e para o bitcoin?

O doloroso inverno cripto

Para entender o futuro — e as barreiras que ainda precisam ser superadas — é preciso dar um passo atrás. 

Pouco menos de 9 anos após sua criação em 2008 por um anônimo conhecido apenas pelo seu pseudônimo de Satoshi Sakamoto, a primeira criptomoeda do mundo, o bitcoin, parecia estar vivendo a sua pior crise. Depois de alcançar o patamar recorde de US$ 20 mil, o ativo despencou mais de 80% e amargou uma crise prolongada de mais de dois anos. 

Os investidores apelidaram o período carinhosamente de “inverno cripto”. Haviam diversas dúvidas: se o ativo em si era valioso o suficiente, se o sonho de uma moeda descentralizada poderia de fato ser alcançado ou se toda a classe de criptomoedas poderiam ser consideradas opções de investimentos seguros e de longo prazo. 

A reviravolta só começou com a pandemia do coronavírus. Em um momento em que trilhões em valor de mercado eram destruídos em um piscar de olhos, o bitcoin surgiu como uma oportunidade de reserva de valor similar ao ouro — raro (já que é programado para reduzir a sua oferta ao longo do tempo), com potencial anti-inflacionário devido a sua escassez, descentralização (sem estar atrelado a nenhum banco central) e a fácil portabilidade digital.  

A falência de grandes plataformas de negociação de bitcoin como a FTX e a Celsius Network mexeu com o mercado, mas o baque foi diferente do que ocorreu ao longo do inverno cripto. 

Isso porque, ao mesmo tempo, a regulamentação do setor aumentou, com os primeiros fundos de índice sendo aprovados para serem negociados em bolsas ao redor do mundo. Ao invés de ser visto apenas como um instrumento de especulação e uma tecnologia sem capacidade de longevidade, o mercado financeiro tradicional abraça a classe de ativos. 

A nova era Trump

O ânimo renovado dos investidores nas últimas semanas se deve às sinalizações de Donald Trump de que o seu governo apoiará a continuidade da regulamentação do mercado cripto, promessas de que a maior economia do mundo pode ter reservas do Tesouro na moeda digital e a proximidade de Elon Musk, um grande entusiasta e movimentador do universo cripto. 

Para Sebastián Serrano, CEO e cofundador da Ripio, esse é o melhor momento para o mercado de criptomoedas desde o surgimento do Bitcoin. 

“Estamos vivendo dias de grandes expectativas, com o setor avançando com enorme força, a queda das barreiras regulatórias, criptomoedas atingindo novos picos de preços o tempo todo, adoção recorde, além de bancos, empresas e até mesmo países investindo ou economizando com criptoativos e novas ferramentas financeiras, como ETFs à vista”, explica o executivo. 

Ainda que nada tenha efetivamente mudado desde a vitória de Trump, é a chegada do republicano à Casa Branca que embala os ativos. 

Ao longo da campanha, ele prometeu transformar os Estados Unidos na “capital mundial das criptomoedas” e garantiu que manteria “100% de todos os bitcoins que o governo dos EUA possui ou vier a adquirir”, criando uma reserva para o Tesouro. Um posicionamento muito diferente do visto em sua última passagem pela Casa Branca. 

O último gatilho para a alta foi a indicação de  Paul Atkins para o cargo mais alto na Securities and Exchange Commission (SEC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) americana. Ele é visto pelo mercado como um executivo simpático aos ativos digitais como o bitcoin. 

US$ 100 mil: o que muda para o bitcoin?

Ultrapassar a barreira psicológica dos US$ 100 mil é importante para o bitcoin — por mais que ainda leve um tempo para que a moeda digital se estabilize ao redor do novo nível de negociação, há quem acredite que o clube dos 100 é um caminho sem volta. 

A alta recente aproxima os investidores institucionais — entidades que realmente movimentam a riqueza global — se aproximando do ativo conforme a alta chama a atenção. 

Para Valter Rabelo, chefe da área de ativos digitais da Empiricus Research, o novo recorde aproxima os grandes investidores da classe, mas esse movimento de chegada dos grandes tubarões do mercado só deve se consolidar com uma definição mais clara de tratativas regulatórias referentes a classificação, tributação e custódia dos ativos.

Para Vinicius Bazan, CEO da Underblock, a nova marca “muda o jogo” para o ativo. “O bitcoin a US$ 100 mil para cripto porque é uma marca psicológica importante e um fato muito aguardado pelo mercado a muito tempo. A mídia vai falar mais e as pessoas vão procurar mais o ativo”. 

E não é só em questão de valor unitário que o bitcoin está quebrando uma marca importante. O avanço recente faz com que o valor de mercado da moeda esteja entre os cinco maiores do mundo — superando algumas das principais empresas de tecnologia, como a Tesla. 

Bazan acredita que há chances do bitcoin superar a Apple, com o segundo maior marketcap do mundo, caso chegue na casa dos US$ 180 mil. “Ainda está longe, mas vimos que não é impossível. Muitas pessoas duvidavam dos US$ 100 mil. Ultrapassar essa marca é mostrar para o mercado que algo que surgiu do zero chegou a US$ 2 trilhões em valor de mercado e que não deve ser ignorado”, aponta o especialista. 

A depender de como a regulamentação na nova SEC pró-criptomoedas se desenrole, o CEO da Underblock vê o patamar dos US$ 150 mil como “conservador” para o próximo ano. Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, há chances de o bitcoin ultrapassar a casa dos US$ 200 mil já no próximo ano.

“Provavelmente, o Bitcoin e o mercado cripto atingirão o pico deste ciclo no próximo ano. Hoje vejo um cenário em que podemos facilmente discutir um valor alto, entre US$ 100 mil e US$ 200 mil até 2025, quando muitos cenários em que o setor esteve trabalhando durante todo o último inverno cripto terminarão de amadurecer”, aponta o CEO da Ripio. 

Apesar das projeções positivas, é bom ter em mente que o mercado de criptoativos segue sendo de alta volatilidade, onde ganhos expressivos e quedas acentuadas se misturam ao longo do tempo. 

Os primeiros meses do governo de Trump devem ser essenciais para entender a movimentação dos ativos em 2025. Se as promessas começarem a se cumprir, o céu pode ser o limite, mas, se houver decepção, o tombo pode ser semelhante aos vistos no inverno cripto.

 

O post Do Inverno Cripto Aos US$ 100 Mil: O Que o Futuro Reserva para o Bitcoin? apareceu primeiro em Forbes Brasil.


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